Tuesday, May 10, 2005

Prezados colegas,

Nos dias 7 e 8 de junho de 2005 estaremos organizando o VII Colóquio Kant Seção Campinas (Unicamp) cujo tema será “Criticismo e Semântica”.

O objetivo do encontro será debater as leituras kantianas a partir da "semântica transcendental". A interpretação iniciada pelo Prof. Zeljko Loparic nos anos oitenta e desenvolvida por ele mesmo e outros pesquisadores ao longo destes 23 anos está apresentada numa série de publicações, teses, dissertações, apresentações em eventos e debates que determinaram o próprio rumo dos trabalhos.

Para uma compreensão da história e estrutura dos problemas que foram se apresentando é necessário começar pelo livro do prof. Loparic (a publicação

em 2000 com modificações da sua tese de 1982) onde, já no prefácio, busca-se

localizar Kant entre Heidegger e Carnap. Preocupado por mostrar o traço essencial da sua tese (a lógica transcendental kantiana como semântica a priori) Loparic apresenta suas diferenças com o Professor Alberto Coffa (The Semantic Tradition from Kant to Carnap, Cambridge: Cambridge University Press, 1991) e reconstrói aquilo que se entende por semântica (além e aquém de Frege) a partir das objeções mais comuns. Este é um ponto de partida importante para não se demorar mais do que o necessário em questões redundantes: de que falamos quando nomeamos a palavra "semântica"?

Quando Loparic nos apresenta sua leitura de Kant não nos oferece uma reconstrução exegética ou histórica da obra. O tempo do seu texto não é o do

historiador preocupado com filiações ou o do filólogo absorvido na análise da língua. Loparic se aproxima de Kant levando um problema que só podemos entender quando o colocamos na perspectiva da sua pesquisa.

Compreender a primeira crítica de Kant como uma teoria da solubilidade dos problemas necessários da razão pura teórica não é algo que possa parecer obvio para um leitor de Marburg, Oxford ou San Diego. Por isso, é necessário enunciar alguns pressupostos. De acordo com Loparic, depois do "colapso do positivismo lógico", que entendia a ciência a partir de uma axiomática, "uma nova abordagem filosófica geral da ciência deveria ser desenvolvida considerando esta última como uma atividade de solução de problemas". A leitura de Kant deve ser entendida no interior dessa linha de pesquisa. Com efeito, a tarefa suprema da filosofia transcendental é enunciada por Kant como o problema da possibilidade das proposições sintéticas. Esta abordagem do texto kantiano não só permite entrar no âmbito teórico, constitui também um verdadeiro fio condutor para a interpretação da totalidade do trabalho crítico, isto é, da filosofia transcendental como sistemática. Assim, de acordo com Loparic, a tese básica da primeira crítica deve ser entendida no seu "teorema de solubilidade", que é formulado do seguinte modo: todas as questões impostas à nossa razão por sua natureza ou são insolúveis, ou é possível para nós oferecer-lhes uma resposta definida.

Estas "questões" são as proposições sintéticas, e a sua solubilidade ou insolubilidade refere a sua possibilidade ou impossibilidade. A prova do teorema, isto é, a resposta da tarefa kantiana, exige a elaboração de uma semântica. Para que uma questão seja solúvel, quer dizer, para que uma proposição sintética seja possível (de ser dita verdadeira ou falsa) deve cumprir com os seguintes requisitos lógico-semânticos, a saber:

1. a proposição não pode ser auto-contraditória;

2. todos seus conceitos não-lógicos tem de poder ser referidos a um domínio de objetos dados ou construídos na sensibilidade;

3. a sua forma lógica tem de ser satisfazível no domínio de formas sensíveis.

O primeiro requisito diz respeito ao princípio lógico de não-contradição, entretanto, os dois seguintes dizem respeito a uma teoria da referência e da verdade a priori. Vale dizer que a peculiaridade da leitura lopariciana baseia-se em duas semantic conditions que Kant elabora fundamentalmente nos capítulos do esquematismo e dos princípios do entendimento. A teoria da referência (2) se desenvolve como uma teoria construtivista e a teoria da verdade (3) como uma doutrina dos princípios do entendimento. Deste modo, a semântica a priori seria uma teoria da "interpretabilidade das representações discursivas". Assim, (2) pode ser entendido como uma teoria do significado dos conceitos no sentido em que a teoria do esquematismo assegura a sua interpretação sensível utilizando dois domínios de entidades, a saber, o domínio dos construtos possíveis na intuição pura e o domínio dos objetos empíricos. É sobre esses dois domínios que é possível sensibilizar, dar significado objetivo (e não meramente lógico) às representações discursivas. No entanto, (3) avança na teoria construtivista da relação das formas das representações discursivas enunciadas nas proposições com as formas intuitivas.

Esta "semântica kantiana" constitui o núcleo do verdadeiro fundamento de decisão para a resolução de problemas. A razão teórica tem dois tipos de problemas: objetuais e sistêmicos. Os primeiros são relativos a objetos empíricos ou matemáticos. Os problemas sobre objetos da experiência surgem e são resolvidos no âmbito da percepção. Os problemas sobre objetos matemáticos dizem sobre as suas propriedades extensionais e intensionais. Os

problemas sistêmicos são problemas necessários da razão pura e surgem do postulado que nos exige "encontrar, para o conhecimento condicionado obtido pelo entendimento, o incondicionado pelo qual sua unidade é levada a completar-se" (CRP B364). Da interpretação desse postulado como proposição sintética surgem problemas insolúveis, próprios da metafísica dogmática.

Entretanto, da interpretação do mesmo postulado como proposição analítica emergem problemas solúveis que nos permitem regular sistemas unificados de explicações e conhecimentos. Esta última interpretação (crítica) do postulado distingue objetos de idéias a partir da semântica anteriormente citada e é aquilo que permite decidir sobre seus problemas. Muitas são as conseqüências teóricas, os desdobramentos e os esclarecimentos que requer a "semântica kantiana". Alguns deles foram e são tratados pelo próprio Loparic

em forma de artigos publicados em vários periódicos especializados. Para lembrar os mais destacados podemos citar "The Logical Structure of the First

Antinomy" (Kant-Studien, vol. LXXXI, n.3, 1990, pp. 280-303) ou "O princípio

de bivalência e do terceiro excluído em Kant" (Studia Kantiana, vol.2, n.1,

2000, pp. 105-138). Outros são objeto de pesquisas, dissertações e teses desenvolvidas fundamentalmente na Universidade de Campinas. Os estudos da semântica kantiana se desenvolvem também sobre as proposições práticas e as reflexivas e são enriquecidos pelos diferentes debates que ocasionam. Neste sentido, é inevitável lembrar a discussão sobre o "fato da razão" com o Professor Guido Antônio de Almeida cujos resultados parciais foram publicados na revista Analytica vol.4, n.1, 1999. Com todos estes trabalhos já produzidos viemos a constituir o Grupo de pesquisas Criticismo e Semântica.

A importância dos estudos neste sentido adquiriu dimensões de amplo reconhecimento, mostra disso é que uma das comissões do X congresso Internacional Kant será intitulada Criticismo e Semântica.

Dando um passo a mais nos trabalhos consideramos pertinente realizar o encontro de 2005 em torno do eixo de leitura acima exposto e os seus desdobramentos.

O evento contará com os seguintes participantes:

Terça feira 7 de junho de 2005

9.00 h. Prof. Dr. Zeljko Loparic (UNICAMP/PUCRS)

Título: Criticismo e semântica

10.10 h. Prof. Dr. Guido A. de Almeida (UFRJ)

Título: (a ser anunciado)

11.20 h. Prof. Dr. José N. Heck (UFG-CNPq/UCG)

Título: Razão prática - apenas uma questão de palavras?

12.30 Intervalo

14.30 h. Prof. Dr. Joãosinho Beckenkamp (Universidade Federal de Pelotas )

Título: Conceito e significado - sobre a interpretação semântica de Kant

15.40 h. Prof. Dr. Vinicius Figueiredo (UFPR)

Título: De Kant a Carnap

16.50 h. Prof. Dr. Darlei Dall'Agnol (UFSC/CNPq)

Título: Seguir regras em Wittgenstein e semântica transcendental

18.00 h. Prof. Dr. Mario Porta (PUCSP)

Título: Virada Semântica

Quarta feira 8 de junho de 2005

8.30 h. Prof. Dr. Ricardo R. Terra (USP-CEBRAP)

Título: História universal e direito em Kant (provisório)

9.40 h. Prof. Dr. Daniel Omar Perez (PUCPR)

Título: Os significados do conceito de história em Kant

intervalo

10.50 hProf. Orlando Bruno Linhares (Universidade Presbiteriana Mackenzie -

SP) Doutorando UNICAMP

Título: A gênese das antinomias matemáticas

13.00 h. Intervalo

14.30 h. Prof. Agostinho de Freitas Meirelles (UFPa; doutorando UNICAMP)

Título: Kant semântico: interpretações de Loparic e Hanna

15.00 h. Prof. Andréa Faggion (doutoranda Unicamp)

Título: Uma crítica semântica à interpretação de Allison para a validade

objetiva na crítica da razão pura.

15.30 h. Prof. Olavo Calábria Pimenta

Título: A função semântica como elemento essencial do esquematismo kantiano

16.00 h. Prof. Alexandre Hahn (doutorando Unicamp)

Título:Regras de aplicação do conceito de fim que é dever na doutrina da

virtude de Kant

16.30 h. Prof. Marcos Alberto de Oliveira (UESC)

TÍTULO: O conceito de natureza humana na metafísica kantiana dos costumes

Na data também se realizará a reunião da Sociedade Kant Seção Campinas

Att.,

Daniel Omar Perez

Mestrado em Filosofia

HYPERLINK " http://www.pucpr.br/mestrado.filosofia " http://www.pucpr.br/mestrado.filosofia

Sociedade Kant Seção Campinas

HYPERLINK " http://www.cle.unicamp.br/kant_campinas " http://www.cle.unicamp.br/kant_campinas

0 Comments:

Post a Comment

<< Home